terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Em Diadema

Na casa do meu avô eu morei durante alguns anos, poucos, porém marcantes...
Nossa casa ficava em diadema, municipio vizinho á São Paulo, mais precisamente em Eldorado. Neste lugar tinha um nome de Vila Paulina...3 nomes para este lugar onde morei. Quando eu era bem pequena acho que uns 4 anos eu comi uma folha destas bem grandes que nascem em lugares úmidos. Pensei que era verdinho, azedinho...aquele trevo que muitas crianças inclusive eu comeram demais por aí... mas eu achei que esta planta era gigante e uma delícia, porém ao comê-la minha garganta fechou, tive um engasgo forte e corri para minha avó...como hoje meu pequeno faz comigo, é nítida a lembrança... ela me mandou tomar leite puro.
No meu aniversário de 4 anos, minha avó fez um vestido branco lindo de cetim... era rodado e tinha alcinhas trançadas com cetim cor-de-rosa. Ela pediu para minha mãe passar. Ela o queimou, bem na frente... lembro da minha avó falando que ela tinha a mão mágica... tanto tempo ouvi esta expressão com ela "mão mágica".
Foi um estrago bem no dia da festinha queles tinham preparado... minha avó tinha uma amiga a Regina, que pelas histórias era muito habilidosa com moda... enfim, ela fez uma laço, um laço Rosa, lindo e costurou na frente deste meu vestido. Foi o que nos salvou! Neste dia ganhei uma boneca linda, tinha os cabelos brancos, um sorriso de criança e corpo de pano. colei esta boneca nos braços por muito tempo, mas um dia vi que minha avó estava mexendo num quartinho que tinha muitas bagunças, muito coco de pomba, muita poeira... na casa deste meu avô sempre tinha uns lugares abandonados. Lá estava minha boneca, cheia de sujeira de pombos, na época fiquei muito triste de ter esquecido dela.
Meu avô sempre bateu em seus filhos, nas suas histórias sempre aparecem torturas como beber leite á força, jogar cerveja na cabeça de um ou bater com chicote de couro em outro... além dos palavrões... em mim ele nunca encostou, mas eu tinha um afeto, uma admiração por ele incrível.
Quando nos mudamos para São Paulo, minha avó ainda frequentava o candomblé e ao chegar na Vila Paulina eu me sentia uma princesa, era engraçado, tinha um certo poder.
Eu voltava para as minha origens... que origens? Eu era a neta do Seu Toninho. Gostava de ficar lá, era frio, frio... minha avó voltava de madrugada, cedinho pra casa em São Paulo. No dia de toque eu ficava dormindo e ouvindo os tambores, minha avó diz que fui criada ouvindo os tambores... dentro da roda do candomblé.
Quando fui crescendo, continuava a ir, mas uma vez eu que adoro mexer em tudo que é diferente, aos 11 anos dentro da sala da casa do meu avô, pequei um gravador e fiquei ouvindo alguns sons... daí eu coloquei no bolso e levi para casa, de lá levei pra escola, adorei este objeto, fiquei gravando minha voz, das minhas amigas.

Alguém furtou da minha mochila, acho que foi um menino chamado "chuleta", na escola. Descobriram e fizeram um estardalhaço, minha família disse que iria de casa em casa para ver se eu tinha roubado algo... que meu avô não queria olhar na minha cara, que não me deixaria subir mais. Confiança acabou, olhares pesados, minha mãe não falava nada. Minha tia sugeriu me levar ao psicologo, ela era formada nesta área... eu achei ótimo sempre quis fazer terapia, análisse, achava chique... ninguém me levou.

Mas eu não roubei dele, nem furtei. só peguei mesmo porque achei interessante... até hoje não sei porque este medo de virar trombadinha... não roubo ninguém hoje...mas continuo querendo me ouvir, gravar coisas, registrar sons, desenhos, me registrar como agora.

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