segunda-feira, 22 de março de 2010

a Morte da Maria Carolina ou só a Morte.

Morte é transição. mas quase sempre nos esquecemos disso ao receber uma notícia dessa. Fazem anos que não a vejo e sábado minha avó deu esta notícia. É meio bobo pensar que será que fez aquela doceira de mão cheia morrer assim. sem eu nem ter visto, nem lembrava dela.
Olha o egoísmo em relação á partida das pessoas! É sempre este papo: mas eu nem tive tempo de me despedir, mas eu lhe amava tanto, mas isso, mas aquilo. Sempre queremos quem morre pra gente. Claro se for uma pessoa querida. Um pai é sinal de que você vai ficar desamparado, uma mãe idem (eu mesma evito pensar na morte da minha avó pra não pirar, nem sei pra quem eu contaria sobre um novo trabalho, um novo acontecimento, pra chorar..) Na morte da minha mãe também é muito estranho.
As pessoas morrem e a gente se sente perdido no mundo.
As pessoas escolhem viver sua spróprias vidas e a gente se sente perdido no mundo.

Separação e Morte. Pensei sobre a similaridade dessas situações de vida.
e daí leio que a morte é passagem, é momentaneo. é necessário morrer para viver. Será necessário separar para viver? Não. mas sentimos assim muitas vezes. como se não houvesse mais escolhas.

Maria Carolina, mais conhecida como tia Maria, morava na rua da minha mãe, há muitos anos filha da tia Zumira. elas moravam numa casa tão bonitinha, eu queria ter uma casa dessas, a Tia Maria fazia salgadinhos e era filha de Yemanjá. virou budista depois de algum problema numa casa de Santo por aí, algum Candomblé, minha avó já me contou mas eu não me lembro da história.

Morreu de tuberculose. Já estava bem velha.
como minha avó falou: "dizem por aí que foi outra coisa" O que exatamente? "HIV...."

Mas com essa idade pegou como? Olha a resposta de outra pessoa: "De um namorado que andava com ela faz um tempinho..." a minha gente, é só a pessoa morrer pra falar que tem coisa aí no meio, a mulher já tava tão velhinha....

Morrer é poder mesmo. morrer a carne é podre, morrer na terra é muito podre, cheira mal, tem muita coisa envolvida, morrer e buscar as coisas do morto. Tem coisa mais estranha que se deparar com a roupa deixada sob a cama, o chimnelo no canto do quarto, o maço de cigarros que não terminou, pois se foi antes de acaba-lo?
Nem sei como lidar com este tipo de morte, falo sobre a passagem, mas viver a morte é muito complicado.

Prefiro não ir nem a velórios, nem a enterros. Não me esperem. Tchau Tia Maria.

4 comentários:

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  2. Fico pensando porque o nome da minha conta google ficou como família martinucci....

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  3. Acho que a grande diferença entre morrer e se separar é justamente o fato de não se ter mais a voz, o cheiro ou mesmo a simples presença daquela pessoa, que poderia ser até um vizinho, ou um colega de trabalho. Nós "ambulantes humanos terrenos" não sabemos lidar com as perdas. E separação, por mais dolorido que pareça, continua sendo separação, a pessoa fica longe,porém sabemos que a qualquer momento poderemos ouvir a voz, sentir o cheiro e ver o sorriso. No caso da morte, a perda é infinita e eterna.
    O lance do velório...realmente, confesso que não me sinto bem vendo um cadáver. Acho até que poderia ter comida nessa horas, assim como os velórios norte-americanos. Afinal de contas, "soluçar de chorar sem ter um suspiro para engolir" (com trocadilhos propositais) deve ser mais difícil. Por outro lado, existem os viciados em Medicina Legal, que adoram analisar a putrefação cadavélica - Augusto dos Anjos deve ter gostado do seu último suspiro, deve ter sido no mínimo curioso observar como é a morte, da maneira mais morbida e cínica, lógico. Imagine um velório onde um indivíduo estranho anota o caderno com as seguintes observações: possível horário da morte, unhas amarelas, boca roxa, olhos vedados, líquido molhando o algodão do ouvido. Bom, acho que viajei na maionese...adeus.
    bjus Grazi

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  4. Assim como flávio de Carvalho, desenha e fez sua série com 9 trabalhos...minha mãe morrendo... é o interesse que é diferente.

    A separação em muitos casos se dá ao nada, ao não cheiro, a falta do toque...

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