sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Na casa dos antepassados

Na casa dos antepassados, mais precisamente na que passei parte da minha infancia... No cortiço da tia Alice, a minha bisavó. Fica na Quatinga, rua muito antiga da região da praça da árvore.
Minha bisavó morreu faz alguns anos, em 1996 me lembro que ela faleceu. eu muito criança não lembro de ter uma sensação tão forte, e no velório foi mais um evento que vi as pessoas chorosas...
Ela quem criou a minha mãe. foi como uma mãe, do seu entendimento no assunto. A minha avó biologica teve uns cinco filhos, cada qual com um pai diferente, todos viviam com suas respectivas avós. Não seria diferente com a minha mãe. Aos seis anos minha mãe soube que o tio Toninho na verdade era seu pai. Imagino uma criança que morava num lugar que tinha os primos e meio irmãos por pertos todos com suas mães e pais semi ou presentes e só ela sendo cuidada pela sua avó. Todos sempre falaram sobre as noites em que minha mãe acordava molhada de xixi. Isso foi um assunto muito comentado, era como uma marca. Ela até os 15 anos fez xixi na cama. E será que precisa perguntar o porque? Lembro de ser bem pequena e todas as minhas tias, a minha avó, meu padrasto incluse ter comentado de que havia ocorrido fato semelhante mesmo depois de adulta, e os esforços matutinos para esconder os lençóis molhados.
Tinha um pouco de pena e ficava constragida por ela.
Várias vezes na minha infância tive pena da minha mãe.
Ontem deixei que ela tomasse conta do pequenno para que fosse trabalhar, isso tem se tornado mais rotineiro, ela tem se oferecido mais... enfim, ele foi ficr na casa dela. Minha ma~e mora no cortiço que foi fundado pela minha bisavó. O cheiro novamente me invadiu a memória, estava chovendo, nossa o cheiro é ainda mais forte, a água não lava, ela reforça! Lembro de ouvir o barulho da água caindo quando ia visitar a minha mãe na infancia. Parecia barulho de cachoeira... eram os andares do cortiço que hoje parece tão menor.
Lembrei de alguns personagens deste lugar...
o Japonês mais sujo que eu já vi, não falava uma só palavra em português, sujo, mas muito sujo. morava num quartinho em frente a casa da minha mãe, o quarto fedia só de passar na porta.
O Seu Pedro, um homem muito velho que desde que eu era pequena ele já era velho, também sujo, tinham que armar um esquema uma vez por semana para dar banho no velho. Tinha os pés bem machucados, alguma doença que não se curava há anos. Os pés davam medo... quando eu era bem epquena ele me dava aqueles doce de leite em saquinho, com o tempo não dava mais nada, gastava tudo em bebida no bar, minha bisavó me mandava chama-lo ás vezes... uma vez ele disse que quando eu ficasse mais velha ele se casaria comigo... tive muito medo dele.
Ana minha tia avó, que tem paralisia cerebral e era minha companheira na sala quando ia assistir ao chaves ou tirar a soneca da tarde. a Ana range os dentes, Ana usava fralda de pano, Ana babava muito. Eu gostava dela mas ás vezes gritava muito. A vó Lice lavava todas as fraldas sozinha....
Tia lia está lá até hoje também é tia avó. Ela me chamava de xuxa preta... morava num quarto debaixo do quarto da minha mãe. Ela foi custureira duranteum tempo, sempre dava pijamas, camisetas e shorts de presente, ela quem os fazia.
Algumas vezes minha mãe saia pra trabalhar de madrugada na CMTC, ela era cobradora,  eu sentia que ela saía da cama e tinha saudades, depois minha bisavó deitava ao meu lado.
Uma vez minha mãe chegou e eu só vi pelo corredor ela recebeu uma surra da vó lice. Fiquei pensando porque ela apanhava sendo adulta?

Ela sempre apanhou, nas conversas de família isso nunca fo escondido...os presentes que ela ganhava eram guardados durante anos pois poderiam estragar...

Porque minha mãe teve esta infancia? porque teve esta vida? Aos 18 anos ela saiu de casa, foi expulsa por conta de uma briga... foi morar com a sua mãe e sua irmã que morava com avó que morreu também foi... alguns meses depois ela engravidou de mim. A mãe dela alcólatra dizia que eu nasceria doente, com algum problema enfim, dava socos na sua barriga... minha mãe passou fome e não fez nenhum pré natal...outro dia ela me confessou que até pensou em se matar...No final da gravidez foi morar com sua madrasta e a família do seu pai. Foi bem cuidada e eu nasci. Em Diadema, depois do Carnaval...

5 comentários:

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  2. "Era bem pequena. Quando se é pequena a gente ve tudo maior. Tudo é tão grande visto daqui debaixo. Todos são tão grandes em suas histórias, manias, conselhos, carinhos, desprezos.
    E quando é que a gente esquece tudo isso e o que a gente viu se torna pequeno? Quando? Queria saber..."

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  3. Mulher, mãe e menina. Deixa gritar teu choro, tem medo não!! Parabéns!!

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  4. eu li e quase chorei tamanha beleza em cada palavra

    Deri leu e te ligou, mas não achou ninguém, acho que ele ficou impressionado

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  5. Ai ...Antepassados ... me remete a segurança... avós avôs brincadeiras... ruas... colegas... amigos de infancia ... ai saudades...

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